sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Queremos essa lágrima!

... essa! queremos essa lágrima! essa mesmo que escorre pelo canto ... fácil como uma cebola cortada, uma chuva no vidro da janela ou no telhado, uma flor pisada, uma pássaro procurando o ninho, uma mão estendida na esquina ... Meursault julgado não pelo assassinato mas por não ter chorado no enterro da mãe ... sinta! “é nossa capacidade de se emocionar que nos diferencia ...” dizem ... dizem como uma arma na cabeça e tomates jogados no vidro.
é nossa capacidade de criar coisas, conceitos; de construir a partir do “nada”; de nos sabermos e nos reconhecermos “mortais” e covardes tentarmos projetar ilusões que amenizem ou neguem isto; nossa capacidade ... nossas capacidades!
... sentir é uma lágrima que despenca? ou talvez, ao contrário, uma emoção forte de dentes, cólera, raiva ... isso! um vírus que todos devemos ser portadores.
... não! Meursault não era julgado pela ausente lágrima, mas porque deveria ter um remorso ... por ter colocado a mãe num asilo? por ter matado? ... remoroso por não demonstrar emoções ... essas que descontrolam e a lágrima é um exemplo.
não sentindo emoções não poderia realizar “a nossa obsessão”, a “nossa obrigação”, a nova meta criada para nós depois da Segunda Guerra: a felicidade ... e mais não tendo remorsos ... não tinha remorsos de negar “a nossa busca por felicidade” ... era um suicida da Idade Média, que depois de enterrado era desenterrado, julgado e, obviamente, condenado ao enforcamento e, agora sim, enterrado, mas em um terreno não sagrado ... e qual era a sua culpa? a de ter disposto de sua vida! esta não lhe pertence! é de Deus! ou nossa: da humanidade toda! devemos nos reconhecer como egoístas profundos?
... e se aceitássemos que o coração é um músculo que bombeia o sangue; que amor, desejo, afeto, partem do cérebro ... de reações químicas, de reações fisiológicas, enzimas liberadas pelo cérebro ... se ... as pessoas deixariam de se apaixonarem, de amarem? ... muito impossível ...
... e isso é simples, mas não fácil ... insistimos em reconstruir os conceitos das coisas ... muitas vezes não interessa o que alguma seja, signifique, porém ... o que EU acho que seja, o que significa para mim ...
ainda não incorporamos que o fácil não é o simples; as coisas são simples quando desveladas ... por mais complexas que sejam as relações ... como uma borboleta caindo morta aqui pode ter qualquer relação com um furacão na Malásia? antes isso era incompreensível, agora é uma questão de ser aceitável ou não.

“Toda a infelicidade dos homens provém da esperança.” Camus
“Os tristes têm duas razões para o ser: ignoram ou esperam” Camus

Silogismo: “quanto mais sabe mais infeliz é o homem, então a ignorância é uma benção.”
“a felicidade é a esperança no nascer-do-sol”
TODO FELIZ É UM TRISTE; TODO INFELIZ É FELIZ”


“Para que tudo fosse consumado, para que eu me sentisse menos só, restava-me apenas desejar que houvesse muitos espectadores no dia de minha execução e que eles me recebessem com gritos de ódio.” fim de O Estrangeiro.
assinamos em sangue cru.

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