sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

a afirmação nega

“Todo politicamente correto é um chato. Me mostre um e eu lhe apresento um político não muito correto” ... confesse, você riu ... ao menos deu um riso amarelo ... olhe no espelho e afirme que não ... “tudo bem, Deus olha por você; mesmo que você não creia” ...
algo está errado e muitas vezes não percebemos ... não nos façamos de tolos ... não é a mensagem sub-liminar ... esta é somente um mecanismo, no máximo, uma ferramenta; e sua utilidade é se podemos descobrir quem a usa ... ou, mais preciso, qual a intenção.
não importa se a “tirada” foi engraçada ou não ... lá está: destacada e crua a sentença: politicamente correto é chato. é marca ... se bem que, a prática obrigatória inclusive em cantigas de ninar, piadas, , , , , torna a existência um tédio profundo ...
e a seguir ... o que? ...o que!?! ... uma afirmação que se nega, se alimenta de si mesma; e para que? para afirmar! mas afirmar quem? ou o que? certamente não Deus ... e realmente não importa se fosse crê ou não.
uma das qualidades mais difundidas, segundo os católicos, é o nosso livre-arbítrio ... “mas mesmo que você não creia”; o livre-arbítrio está morto não por nós, mas pela crença em um Deus que nos deu o livre-arbítrio.
então crer no livre-arbítrio que nos foi dado por Deus e crer que esta crença em sua origem elimina esse mesmo livre-arbítrio.

... mas a questão não é Deus! somos nós! nós quando afirmamos que nossa crença é a verdade pouco importando quem discorde ou pense argumentar contra, ou sobre ela .
esqueçam Deus lembrem-se do colegial. início da puberdade. adolescência. um guri e uma guria ... “sim, se ele – ela – te espezinha é porque gosta de você e não consegue se expressar” ... o outro não quer confessar seu desejo .... e se confessa? está confessado ... “me desculpe, mas, realmente, você é uma pedra que não gosto de topar!” ... é uma declaração de amor?

é insuficiente se ter crenças, verdades, opiniões? ainda negamos aos outros ... ainda negamos os outros ... ainda negamos outros ... negamos os outros ... negamos outros ... negamos ... outros ...
negamos para podermos nos afirmar
para sermos: que os outros deixem de ser
como se pode condenar os “belíssimos” tiranos, ditadores, messias, pais da psicologia ... se com menos sangue é isso que praticamos ...

tudo o que nega a existência pede para ser negado?




o desconhecido não proporciona ousadia ... deveria, mas ... é o receio, o temor, o MEDO ...
e assim encontramos nosso medo primeiro: o da solidão, o da finitude, o da não permanência, o da incerteza ...
além de negar, a relação com a “verdade” é de profunda covardia ... a aniquilação do instinto básico das coisas vivas: o de sobrevivência. tornamos esse o instinto sobrevivência, de viver sobre, abaixo ... como entes inferiores buscando coisas superiores para servirmos.
kierkegaard dizia que a angústia da morte é a angústia da escolha ... por isso, talvez, tenhamos a insistência em reduzir tudo a um maniqueísmo, a uma bipolaridade e introjetamos essa perspectiva para todos os espaços ... mesmos aqueles onde ela não cabe ...
a covardia gananciosa humana: o que se fazer quando a vida não é uma bifurcação? enxergar uma e anular as outras.

entrevistado em campo, antes de começar a peleja, o ilustre goleiro lusitano Bento respondia sobre as possibilidades do jogo: “eu acho que podemos ganhar como podemos perder, exceto, talvez, na possibilidade do empate.” um gênio não reconhecido.