sábado, 27 de dezembro de 2008

Humanismo! Humanismo?

Então o que é humanismo ou ser humanista? É crer em uma centralidade humana? Ou que a espécie humana se posiciona em uma natureza própria auto-gerada e independente e além da natureza geral? Esta, que engloba todas as espécies, todos os espécimes, todas espécies de toda espécie. E se assim o for? significa isto que o ente humano é superior à natureza. Talvez, de alguma forma e em um determinado sentido.
Não importa se nosso espaço é construído, outras espécies, de outras maneiras, outras dimensões, também constroem o seus espaços. Suricatos, coelhos. Formigas e cupins moldam verdadeira cidades intrincadas de barro, terra. Em regiões do planeta tribos humanas habitam árvores e ainda utilizam instrumentos "rudimentares". No Saara pode-se visitar vilas moldadas em interiores de grandes buracos. Em diversas cidades ocidentais, Nova Iorque, Rio de Janeiro, pessoas habitam caixas de papelão, ocos de pontes, subterrâneos de metros. Outros, mais abonados, podem "com sorte" passar uma vida sem saberem o que é andar de ônibus ou atravessar uma rua movimentada.
Então, não seriam eles mais humanos ou menos humanos que qualquer outro? Seriam "nossas potencialidades", "nossas possibilidades", o fator a ser questionado, combatido.
A medida da questão não é tanto o grau de relevância que nos damos, porém, a mera constatação de que dentre as nossas diversas limitações é estarmos aprisionados em nossa própria possibilidades de comunicar.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Queremos essa lágrima!

... essa! queremos essa lágrima! essa mesmo que escorre pelo canto ... fácil como uma cebola cortada, uma chuva no vidro da janela ou no telhado, uma flor pisada, uma pássaro procurando o ninho, uma mão estendida na esquina ... Meursault julgado não pelo assassinato mas por não ter chorado no enterro da mãe ... sinta! “é nossa capacidade de se emocionar que nos diferencia ...” dizem ... dizem como uma arma na cabeça e tomates jogados no vidro.
é nossa capacidade de criar coisas, conceitos; de construir a partir do “nada”; de nos sabermos e nos reconhecermos “mortais” e covardes tentarmos projetar ilusões que amenizem ou neguem isto; nossa capacidade ... nossas capacidades!
... sentir é uma lágrima que despenca? ou talvez, ao contrário, uma emoção forte de dentes, cólera, raiva ... isso! um vírus que todos devemos ser portadores.
... não! Meursault não era julgado pela ausente lágrima, mas porque deveria ter um remorso ... por ter colocado a mãe num asilo? por ter matado? ... remoroso por não demonstrar emoções ... essas que descontrolam e a lágrima é um exemplo.
não sentindo emoções não poderia realizar “a nossa obsessão”, a “nossa obrigação”, a nova meta criada para nós depois da Segunda Guerra: a felicidade ... e mais não tendo remorsos ... não tinha remorsos de negar “a nossa busca por felicidade” ... era um suicida da Idade Média, que depois de enterrado era desenterrado, julgado e, obviamente, condenado ao enforcamento e, agora sim, enterrado, mas em um terreno não sagrado ... e qual era a sua culpa? a de ter disposto de sua vida! esta não lhe pertence! é de Deus! ou nossa: da humanidade toda! devemos nos reconhecer como egoístas profundos?
... e se aceitássemos que o coração é um músculo que bombeia o sangue; que amor, desejo, afeto, partem do cérebro ... de reações químicas, de reações fisiológicas, enzimas liberadas pelo cérebro ... se ... as pessoas deixariam de se apaixonarem, de amarem? ... muito impossível ...
... e isso é simples, mas não fácil ... insistimos em reconstruir os conceitos das coisas ... muitas vezes não interessa o que alguma seja, signifique, porém ... o que EU acho que seja, o que significa para mim ...
ainda não incorporamos que o fácil não é o simples; as coisas são simples quando desveladas ... por mais complexas que sejam as relações ... como uma borboleta caindo morta aqui pode ter qualquer relação com um furacão na Malásia? antes isso era incompreensível, agora é uma questão de ser aceitável ou não.

“Toda a infelicidade dos homens provém da esperança.” Camus
“Os tristes têm duas razões para o ser: ignoram ou esperam” Camus

Silogismo: “quanto mais sabe mais infeliz é o homem, então a ignorância é uma benção.”
“a felicidade é a esperança no nascer-do-sol”
TODO FELIZ É UM TRISTE; TODO INFELIZ É FELIZ”


“Para que tudo fosse consumado, para que eu me sentisse menos só, restava-me apenas desejar que houvesse muitos espectadores no dia de minha execução e que eles me recebessem com gritos de ódio.” fim de O Estrangeiro.
assinamos em sangue cru.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

depois das palavras

e depois da palavra ... nomeando, determinando – não só a coisa, mas, através disto, impondo qual a relação com as outras coisas ... sem inocência ou qualquer sentido de importância com a coisa humana ... sim! a coisa! ... não estamos falando das coisas objteos inanimados, mas de tudo ... das portas, chaves, unhas, línguas, linguagens, roupas; dos armários, abajures, conceitos, edifícios ... tudo são coisas que se relacionam. até esta estranheza gramatical logo acima. a coisa gram[atica. a coisa gramatical.
e qual a importância disto? somente porque nós, humanos, temos tal capacidade? ... quem pode afirmar que “ruh, auhh,rauhf” não significa “aquela cara tem comida” em uma espécie animal ... as plantas se comunicam com odores; o medo também se transmite pelo cheiro ... não se precisa ver ou ouvir o seu medo, cheiramos ...
antes de continuar vamos nos situar de uma maneira “racional”: todo erro é uma falha, é um sinal da imperfeição ... como aquela que verificamos quando olhamos nossos dentes, de nossos avôs, netos ... alguns dentes-de-ciso não nascem mais, porém em outros da mesma idade estão lá ... nosso DNA difere de maneira insignificante de alguns primatas e uns três porcento – verifiquem! a informação somente engolida não é digerida, não alimenta. o que somos? um produto de sucessivos erros genéticos que nos permitiram andar em duas patas, falar sem ter um aparelho fonador ... .... mas
e agora? !
a herança da palavra nomeando, determinando; ou a insegurança; ou o medo de reconhecer que aquele corpo doutro lado da rua está do outro lado da rua e não é você e poderia ou não ser ... olhamos apressados ... o relógio de rua marca 14 e 39 ... ou seria 4 e 39 ... tanto faz, já temos a resposta ... aquela que se encontra no ponto de partida ... e este não é o relógio é a última informação que tivemos das horas, a nossa percepção da passagem do tempo, a nossa compreensão das nuvens ... somos nós ... nós nos tornando a medida das coisas ...
quando Collor – um filhinho de papai-assassina metido à besta – e os otários acreditaram na sua “fachada” elegendo-o presidente ... pois bem, quando eLLe sofria o processo de impeachment o que se ouvia era sempre “é lógico que ele sabia do esquema de corrupção!” ... “está com o bolso cheio de dinheiro roubado de nós!” ... “como ele pode afirma que desconhecia!”
o que se queria era o que? puní-lo ou se redimir da besteira de elegê-lo? a espiação é a salvação! a culpa dele iria livrar a culpa dos crentes ...
não tinham a menor importância essa discussão ... no caso dele mesmo que não ganhasse dinheiro com isso, ou algo do gênero, a impropribidade administrativa já era o suficiente. no entanto, isso seria algo legal, de lei, e não legal, de aliviar os crentes, os eleitores ...
as palavras não significam mais nada ... são ajuntamento de símbolos gráficos ou amontoado aleatório de sons, fonemas ... o que hoje impera é a medida que podemos dar a elas ... não o que foi dito mas o que julgamos que foi dito, o que julgamos que deveria ser dito, o que julgamos da intenção do que foi dito ...
não precisamos mais andar armados, apesar de Bush, milícias, traficantes, policiais ... estamos sempre prontos para julgar ... não legisladores, mas juízes determinando as relações das coisas ...
e mais que tudo: exterminadores do outro, não precisamos matá-lo, prendê-lo ... o julgamos sendo a nossa medida; com isso negamos a ele a existência ... a existência de sua própria determinação das coisas, o seu próprio sistema lógico e somos superiores ...
superiores como só os deuses vingativos e déspotas poderiam ter sido.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

a afirmação nega

“Todo politicamente correto é um chato. Me mostre um e eu lhe apresento um político não muito correto” ... confesse, você riu ... ao menos deu um riso amarelo ... olhe no espelho e afirme que não ... “tudo bem, Deus olha por você; mesmo que você não creia” ...
algo está errado e muitas vezes não percebemos ... não nos façamos de tolos ... não é a mensagem sub-liminar ... esta é somente um mecanismo, no máximo, uma ferramenta; e sua utilidade é se podemos descobrir quem a usa ... ou, mais preciso, qual a intenção.
não importa se a “tirada” foi engraçada ou não ... lá está: destacada e crua a sentença: politicamente correto é chato. é marca ... se bem que, a prática obrigatória inclusive em cantigas de ninar, piadas, , , , , torna a existência um tédio profundo ...
e a seguir ... o que? ...o que!?! ... uma afirmação que se nega, se alimenta de si mesma; e para que? para afirmar! mas afirmar quem? ou o que? certamente não Deus ... e realmente não importa se fosse crê ou não.
uma das qualidades mais difundidas, segundo os católicos, é o nosso livre-arbítrio ... “mas mesmo que você não creia”; o livre-arbítrio está morto não por nós, mas pela crença em um Deus que nos deu o livre-arbítrio.
então crer no livre-arbítrio que nos foi dado por Deus e crer que esta crença em sua origem elimina esse mesmo livre-arbítrio.

... mas a questão não é Deus! somos nós! nós quando afirmamos que nossa crença é a verdade pouco importando quem discorde ou pense argumentar contra, ou sobre ela .
esqueçam Deus lembrem-se do colegial. início da puberdade. adolescência. um guri e uma guria ... “sim, se ele – ela – te espezinha é porque gosta de você e não consegue se expressar” ... o outro não quer confessar seu desejo .... e se confessa? está confessado ... “me desculpe, mas, realmente, você é uma pedra que não gosto de topar!” ... é uma declaração de amor?

é insuficiente se ter crenças, verdades, opiniões? ainda negamos aos outros ... ainda negamos os outros ... ainda negamos outros ... negamos os outros ... negamos outros ... negamos ... outros ...
negamos para podermos nos afirmar
para sermos: que os outros deixem de ser
como se pode condenar os “belíssimos” tiranos, ditadores, messias, pais da psicologia ... se com menos sangue é isso que praticamos ...

tudo o que nega a existência pede para ser negado?




o desconhecido não proporciona ousadia ... deveria, mas ... é o receio, o temor, o MEDO ...
e assim encontramos nosso medo primeiro: o da solidão, o da finitude, o da não permanência, o da incerteza ...
além de negar, a relação com a “verdade” é de profunda covardia ... a aniquilação do instinto básico das coisas vivas: o de sobrevivência. tornamos esse o instinto sobrevivência, de viver sobre, abaixo ... como entes inferiores buscando coisas superiores para servirmos.
kierkegaard dizia que a angústia da morte é a angústia da escolha ... por isso, talvez, tenhamos a insistência em reduzir tudo a um maniqueísmo, a uma bipolaridade e introjetamos essa perspectiva para todos os espaços ... mesmos aqueles onde ela não cabe ...
a covardia gananciosa humana: o que se fazer quando a vida não é uma bifurcação? enxergar uma e anular as outras.

entrevistado em campo, antes de começar a peleja, o ilustre goleiro lusitano Bento respondia sobre as possibilidades do jogo: “eu acho que podemos ganhar como podemos perder, exceto, talvez, na possibilidade do empate.” um gênio não reconhecido.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Não chame ninguém

e tudo começou com a palavra ... nomeando as coisas ... animadas, inanimadas; mas como como dizer atualmente?

a identidade é uma busca antiga das pessoas. algumas, por covardia excessiva, se olham no espelho e dizem “este sou eu”. “esta É minha identidade, quem sou e sempre serei!”

que nenhuma parilisia alcance sua face, um AVC ... nem se torne paraplégico: não poderia mais mirar-se no espelho e se reafirmar todo dia pela manhã. ou pela tarde. não sabemos do seu relógio biologico.

em uma revista um “....” afirma que não é afro-descendente, mas um brasileiro negro! estamos melhor que os Estados Unidos? por lá, a covardia nomeia as pessoas de afro-americanos. Sim! em parte ainda são americanos, mas também são africanos. de quantas gerações “exiladas” naquele país? cinco? sete? mais? menos? o que faz deles ainda africanos? a pigmentação somente? e quem reforça esta pequinez?

geneticamente somos menos próximos dos ratos que árabes e judeus. e mesmo assim a diferença é muito pequena.

não chame aquela mulher de poetisa: é uma representação do machismo e não representa a igualdade dos sexos. (que, aliás, se fossem, realmente, iguais, a humanidade já não praticaria a reprodução sexuada, mas assexuada; podendo, quem sabe, chegar ao patamar das minhocas que trocam de sexo para procriação. são todas machos e fêmeas).

não chame aquela mulher de poeta: isto representa o aviltamento de uma igualdade onde o gênero ou é neutro ou anula a sensibilidade feminina.

não chame o senhor de afro: ele é negro brasileiro.

não chame o senhor de negro: ele é afro.

NÃO CHAME NINGUÉM! DE NADA!

a grande problemática é a identidade. é o como cada um quer ser reconhecido. é a intransigência e a insegurança de que sua força não seja reconhecida e referenciada.

na existência de uma multiplicidade toda a multiplicidade deveria ser possível.



“tudo se comunica, mesmo quando não tem consciência disto. Mas se uma árvore cair no meio de uma floresta vazia de humanos, ela se comunicou.” (livre leitura de Paul Watzlawick da Escola de Palo Alto)




a questão referente à identidade não traz um único ângulo possível, como várias outras carrega uma sintomatolgia de amplo espectro ... muitos não julgam suficiente terem uma identidade, quanto mais uma que se permita em transformação constante ... os outros – essa espécie que nunca acompanha o processo cognitivo dos outros outros – tem que reconhecer o que se vê de si mesmo e reforçá-lo.

em tempos de “globalização”, “pós-modernismo”, “tempos líquidos”, realmente a conceituação, no presente momento, pouco altera as consegüências, busca-se uma identidade: “sou pardo, de cabelos pretos e pontas claras, subdesenvolvido, leio em romeno, ouço jazz-rock-equal-de-terceira-linha, anarquista da linha esquizo-descon-independente-dos-canhotos ...” Sim! a identidade é cada vez “mais mínima”, apesar de ser mais extensa e acreditava-se, com isso, que ... a segurança em um cubículo!

um dia, alguém neste lama da origem humana se erguerá para afirmar: “sou humano!”. e isto é o crucial ...

e qual a importância disto? se não sei quem sou, quem posso ser, como estruturar relações? como reconhecer os outros ou qualquer um?